sexta-feira, 29 de maio de 2015

Gestão de RH I

Chegou à fábrica à hora combinada. Mandaram-no subir aos Recursos Humanos. A cada passo, no andar de cima, sentia a trepidação mecânica da produção, mas o som chegava cada vez mais abafado, como a voz daqueles pedintes dos quais nos afastamos sem dar qualquer esmola. Foi recebido por uma mulher relativamente jovem, loira, saia e casaco cinzentos. Não conseguiu não conferir o decote sorrindo da camisa branca. Soutien branco. Pele branca. Ela entregou-lhe o manual de acolhimento. Um calhamaço. E a roupa de trabalho, cujo custo seria descontado no primeiro vencimento, e mandou-o ter com o encarregado. O encarregado. Atarracado. Carrancudo. Levou-o ao vestiário. Despiu-se e vestiu-se. Sentiu frio. Deixou o manual de acolhimento no cacifo. O encarregado conduziu-o a produção. O rumor das máquinas cresceu até quase à asfixia. O encarregado apontou-lhe um posto de trabalho desocupado, rente a uma enorme máquina e gritou-lhe:

–Trabalha! Tens de fazer uma peça por minuto, 60 peças por hora, 9 horas de trabalho dá 540 peças. Trabalha!

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