segunda-feira, 1 de junho de 2015

O senhor Baltasar I

De novo. É de novo que chove. A mesma chuva. Configurada. Talvez, até, a mesma água, apesar do mundo e dos gregos. Altamente impossível, como a vida e, ainda assim, a mesma chuva enevoada e rente, espessa como uma manta de lã, quase sólida, mas pela queda incessante, acentuando a sua alma líquida, mantendo intacto o corpo denso e carnal.

O senhor. Baltasar está dentro do automóvel. A rua onde está é um pormenor. Sente-se molhado, apesar do automóvel, de anos de inovações e desenvolvimentos técnicos e tecnológicos. Molhado e quase melancólico. Melancólico e molhado. É, então, que se apercebe de que o tejadilho do automóvel está semi-aberto. Estaria semi-fechado se o senhor Baltasar não estivesse molhado. Semi-aberto como se sorrisse com uns dentes cinzentos de nevoeiro e chuva coalhada liquefazendo-se. Sorri, também, o senhor Baltasar, fechando o tejadilho e permanecendo no automóvel imóvel, imóvel e molhado e melancólico, aguardando as anunciadas tréguas do crepúsculo.

Sem comentários:

Enviar um comentário