De novo. É de novo que chove. A
mesma chuva. Configurada. Talvez, até, a mesma água, apesar do mundo e dos
gregos. Altamente impossível, como a vida e, ainda assim, a mesma chuva
enevoada e rente, espessa como uma manta de lã, quase sólida, mas pela queda
incessante, acentuando a sua alma líquida, mantendo intacto o corpo denso e
carnal.
O senhor. Baltasar está dentro
do automóvel. A rua onde está é um pormenor. Sente-se molhado, apesar do
automóvel, de anos de inovações e desenvolvimentos técnicos e tecnológicos.
Molhado e quase melancólico. Melancólico e molhado. É, então, que se apercebe
de que o tejadilho do automóvel está semi-aberto. Estaria semi-fechado se o senhor
Baltasar não estivesse molhado. Semi-aberto como se sorrisse com uns dentes
cinzentos de nevoeiro e chuva coalhada liquefazendo-se. Sorri, também, o senhor
Baltasar, fechando o tejadilho e permanecendo no automóvel imóvel, imóvel e
molhado e melancólico, aguardando as anunciadas tréguas do crepúsculo.
Sem comentários:
Enviar um comentário